As classes sociais no capitalismo.

Autor: George Mavrikos

Sobre o autor:

George Mavrikos é Secretario Xeral da Federación Sindical Mundial

Máis información:

Pelo seu interesse espalhamos a intervenção do Secretário Geral da Federação Sindical Mundial, George Mavrikos, na mesa do Simpósio Sindical internacional dedicado ao 70º aniversário da FSM. “As classes sociais no capitalismo, modernas formas de luta de classes e o papel do movimento sindical internacional”:

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O surgimento das classes sociais

Muitos livros e documentos, inumeráveis artigos foram e continuam sendo escritos em todo o mundo, sobre o tema das “classes” sociais. Durante os últimos séculos, a luta ideológica sobre a questão da estrutura classista da sociedade capitalista tem sido intensa e duradoura. E, constantemente, torna-se cada vez mais intensa. De modo que, enquanto militantes do movimento popular e como quadros da luta de classes, temos de adquirir os conhecimentos básicos sobre estes temas; precisamos conhecer a composição de classe da sociedade em que vivemos, da sociedade na nossa região ou continente e em todo o mundo.

O conhecimento correto e a análise científica da composição de classes são elementos necessários para o desenvolvimento da estratégia correta e a tática adequada do movimento sindical, e permitem a determinação acertada das motivações e da política de alianças com os demais setores populares, tão necessárias para a classe trabalhadora. O conhecimento exato dos elementos componentes da classe operária, colabora também na compreensão das prioridades da orientação organizativa do Movimento Sindical, as necessidades modernas para o desenvolvimento das medidas organizativas e seus ajustes.

Uma prioridade, entre os deveres dos militantes do movimento popular, é a explicação da rejeição das teorias não-científicas (surgidas no século XIX, e presentes durante todo o século XX), que sem cessar propagam a limitação quantitativa e qualitativa da classe trabalhadora, limitando-a somente aos trabalhadores “braçais”, ou, ao contrário, daquelas que estendem os limites das classes sociais e consideram quase toda a população, como sendo o que se denomina “povo trabalhador”. A esses dois pontos de vista equivocados, devemos acrescentar ademais a –igualmente– equivocada opinião não-científica promovida, de vez em quando, por alguns reformistas, sobre o chamado papel de “liderança” dos estudantes, dos “indignados”, de elementos lumpem, de movimentos espontâneos etc.

Nas condições atuais da revolução científica e tecnológica, o tema da estrutura de classes se mostra ainda mais complexo e pertinente. Juntamente com outro tema central da “natureza do Estado”, são os pontos mais importantes para o movimento sindical e seus dirigentes.

A sociedade capitalista não é uma sociedade homogênea, consiste em classes, grupos e estratos sociais. Essas classes e grupos não são estáticos, nem eternos, mas estão sempre em correlação com o sistema de produção social existente em cada momento histórico.

Portanto, na sociedade primitiva não existiam classes, porque essencialmente não havia propriedade privada. A decomposição do sistema social primitivo e a entrada do sistema social escravagista deu lugar a um processo de produção de bens maior do que seu consumo. Os produtos tornaram-se excessivos para suprir as necessidades imediatas de seus produtores. As pessoas passaram a concentrá-los e vendê-los, obtendo lucros, adquirindo propriedades e desenvolvendo atividades comerciais. Através desse processo, alguns acumularam lucros, compraram propriedades privadas e, assim, converteram-se em proprietários dos meios de produção. Outros, que não eram capazes de possuir meios de produção, sob as suas propriedades privadas, tiveram que pedir trabalho aos proprietários dos meios de produção.

Dessa maneira, criou-se, passo a passo, a divisão da sociedade em classes, grupos e estratos sociais. Por um lado, os proprietários dos meios de produção, por outro, aqueles que apenas dispõem de suas mãos e suas capacidades mentais. Assim, paulatinamente, mas de forma constante, começou a surgir a posição antagônica destas duas classes sociais básicas. Começaram então, os conflitos de classes. A revolta de Espartaco, no século primeiro A.C., considerada como a primeira grande confrontação de classe na história, contou com a participação de cem mil escravos. Sobre este acontecimento histórico, em uma de suas cartas a Friedrich Engels, em 1861, Karl Marx escreve: “Espartaco surge como a figura mais famosa, revelada pela história antiga … Um grande general, um verdadeiro representante do antigo proletariado.”

Senhores feudais, aristocratas, proprietários de terra, imperadores, papas, cardiais e reis acumularam terras e recursos econômicos em suas posses e controlaram o comércio. Converteram-se nos primeiros capitalistas do sistema de produção social de sua época. Por outro lado, os pobres escravos, os demais produtores independentes e os trabalhadores manuais se viram obrigados –para sobreviverem– a oferecer ou vender sua força de trabalho, em troca de uma remuneração. Tornaram-se assim, em sua época, os precursores da atual classe operária.

Mais tarde, quando a propriedade da terra foi acumulada em um menor número de mãos, os agricultores e suas famílias perderam seu trabalho e, em geral, foram migrando do campo para as cidades, em busca de trabalho. Por outras partes, no continente americano, a venda e o transporte de escravos para as economias capitalistas em desenvolvimento reuniram uma grande reserva de potenciais trabalhadores junto às grandes indústrias e centros industriais. Nessas áreas, onde houve a concentração da classe operária, começaram a surgir os primeiros esforços para a ação de classe coletiva, por meio da unidade dos trabalhadores contra a exploração dos capitalistas.

Classes básicas e não-básicas

Nas sociedades classistas, podemos distinguir entre as classes básicas, que têm um papel central na produção e as não-básicas, diversos estratos sociais que não têm conexão direta com o modo de produção dominante. A luta de classes na sociedade capitalista desenvolve-se principalmente entre essas duas classes básicas e antagônicas. Cada qual tenta atrair, para o seu lado, aliados das classes não-básicas e de outros estratos sociais.

As duas classes básicas no capitalismo são, por um lado, a burguesia, a classe dos capitalistas, e do lado aposto, a classe operária.

Um capitalista é o empresário, o comerciante, o banqueiro que tem capital e faz uso deste, mediante a contratação de trabalhadores e utilização de sua força de trabalho para aumentar as dimensões de seu capital. Aqueles que fazem parte do processo de produção, como patrões, que têm suas receitas baseadas no lucro da venda das mercadorias e objetos produzidos pelos trabalhadores por eles empregados, que exploram e se aproveitam da exploração, da mais-valia produzida pelos trabalhadores. Capitalista é aquele cuja renda é alta e lhe assegura uma vida cômoda e a acumulação de riqueza.

Trabalhadores – proletários: São os que não têm meios de produção de sua propriedade. Aqueles que vendem sua força de trabalho física ou mental e recebem suas receitas sob a forma de pagamento, salário mensal, por hora ou semanal. São aqueles cuja renda é pequena e têm dificuldade para sobreviver e cujo trabalho é, principalmente, a mera execução das instruções e indicações de seus superiores. São os que sofrem a opressão do sistema capitalista.

Em poucas palavras, as classes básicas são: por um lado a classe que possui os meios de produção e, no lado oposto, os explorados, a classe oprimida.

As classes básicas no decorrer dos séculos:

  • Na sociedade escravagista, os amos, por um lado, e os escravos por outro.
  • No feudalismo, os senhores feudais, por um lado, e os servos e camponeses por outro.
  • No capitalismo, por um lado, a burguesia e por outro o proletariado.

No proletariado estão inclusos não só os trabalhadores da indústria, mas também os empregados do comércio e os bancários.

A classe operária também tem estratos, por exemplo:

  • O proletariado fabril, que trabalha nas grandes fábricas, está concentrado e é o núcleo da classe operária.
  • O proletariado industrial, que inclui não apenas operários fabris, mas também trabalhadores de indústrias menores e oficinas.
  • Os desempregados, que formam um exército de reserva de mão de obra.

Classes não básicas

  • Classe média: Setor da população economicamente ativa que tem alguns dos atributos da burguesia e, simultaneamente, alguns dos atributos da classe operária. Por exemplo, os trabalhadores autônomos, que são proprietários de um meio de produção, mas não contratam trabalhador algum e trabalham por conta própria. Portanto, desenvolvem as funções administrativa e executiva. Estes estratos têm grande fluidez e mobilidade. Alguns deles passam para a burguesia, enquanto outros perdem tudo que têm e passam para a classe operária.
  • Camponeses: No campesinato, podemos distinguir várias categorias com características muito diferentes: há agricultores que são proprietários de grandes terras, são ricos e pertencem à burguesia. Outros são pequenos agricultores, pobres, que trabalham sua pequena terra e têm dificuldades para sobreviver. São a grande maioria e os aliados mais próximos da classe operária, sendo, por sua vez, uma força motriz para o progresso social. O campesinato, os camponeses pobres, era uma classe básica nos tempos do feudalismo. Friedrich Engels em sua obra de 1894: “O problema camponês na França e Alemanha”, divide os camponeses em: peões, pequenos, médios e grandes camponeses. Ressalta, também, que há latifundiários e senhores de terras que constituem um “negócio capitalista não dissimulado”.
  • A intelectualidade: É um estrato social especial nas condições da revolução científica e tecnológica, sua presença quantitativa e qualitativa está crescendo e é heterogênea enquanto classe. Por exemplo, há médicos que trabalham em seu próprio consultório, outros em hospitais e sua única renda é seu salário. Por outro lado, há médicos que são proprietários de hospitais, centros de saúde e grandes consultórios e contratam outros médicos para trabalharem para eles. O mesmo se aplica aos advogados, engenheiros, arquitetos etc.
  • Estudantes: Os estudantes tampouco são uma categoria homogênea, No período de seus estudos, continuam pertencendo à classe ou estrato social de origem, a de suas famílias. Quando terminam os estudos e iniciam sua vida profissional, ou ficam na classe ou estrato de onde provêm, ou mudam de classe.

Critérios e limites da Classe Trabalhadora

A definição de classes foi elaborada pelos grandes pensadores K. Marx e F. Engels, com suas obras clássicas e, finalmente, formulada por V. Lênin em sua obra “Uma grande iniciativa”. Segundo a definição de Lênin:

“As classes são grandes grupos de homens que se diferenciam entre si pelo lugar que ocupam em um sistema de produção social historicamente determinado, pelas relações em que se encontram em relação aos meios de produção (relações que, em sua maior parte, as leis referendam e formalizam), pelo papel que desempenham na organização social do trabalho, e, consequentemente, pela maneira de receber, e a proporção em que recebem, a parte da riqueza social de que dispõem.”

Segundo a visão marxista dominante, os critérios devem ser levados em consideração de maneira uniforme, em conjunto, individualmente ou em grupos. Se tivéssemos a obrigatoriedade de dar prioridade a um critério, por sua importância especial, este seria “por sua relação com os meios de produção”, porém sem aceitar que este seja o único critério que classifica alguém como pertencente à classe operária ou não. Nos exemplos:

1. O gerente de uma empresa transnacional trabalha todos os dias, talvez não seja um acionista, nem possua meios de produção, porém:

  • É recompensado com uma parte dos lucros;
  • Recebe uma remuneração cinco ou dez vezes maior que a de um simples trabalhador;
  • Desempenha função administrativa, de direção executiva e no processo de produção. Esta pessoa pode trabalhar muitas horas por dia, inclusive muito mais horas do que o porteiro da companhia, mas de qualquer forma este gerente não pertence à classe operária e sim à burguesia.

2. Um professor universitário, que recebe um salário alto, tem papel decisivo, como diretor, no plano de estudos e/ou no funcionamento do departamento a que pertence ou da universidade como um todo, conta com ajudantes sob suas ordens etc. pertence à classe média alta, ou mesmo à burguesia. Entretanto, um professor de educação fundamental ou secundária, que recebe um salário, executa o plano de estudos decidido por outros, pertence à classe operária.

3. Um educador que é dono de sua própria escola privada e contrata a outros trabalhadores assalariados, mestres, professores, porteiros etc., ainda que –como chefe– trabalhe mais horas do que todos os seus empregados, mesmo que a escola sofra perdas financeiras e nos lucros, não pertence à classe operária, mas à burguesia.

4. Um juiz de alto nível, um general do exército, um cardeal, não importando o número de horas que venham a trabalhar por dia, nem tampouco a forma como recebem sua remuneração, pertencem à burguesia e aos mecanismos do Estado burguês. São um instrumento básico do aparato burguês.

O papel da classe operária

A classe operária possui atributos que a convertem na classe de vanguarda para o progresso social e lhe atribuem o papel principal no caminho para a democracia e o socialismo.

Os mais básicos destes atributos são:

  • Está conectada com a produção em grande escala da riqueza, que cresce mais e mais com a concentração e a centralização e que se constitui num processo constante.
  • É a principal força produtiva na sociedade capitalista, a que produz todos os produtos básicos.
  • Concentra-se nos grandes centros urbanos, nas grandes cidades, nos grandes centros industriais e nas grandes fábricas.
  • Enquanto classe está constantemente melhorando seu nível de estudos, seus conhecimentos técnicos, sua experiência e habilidades.
  • É a classe que possui a melhor disciplina e disposição para a luta, a estabilidade e a coerência militantes.
  • É a classe que está mais bem organizada, uma vez que tem seus sindicatos, além de ampla experiência historicamente acumulada na luta de classes e confrontação. Como classe, pode expressar os interesses econômicos e políticos fundamentais de todo o povo trabalhador e unir ao seu redor os camponeses pobres, os trabalhadores autônomos, os intelectuais progressistas etc.
  • É a classe que, com queda do sistema capitalista, será libertada e “não terá nada a perder, senão seus grilhões”.

Estas características destacam o papel de vanguarda da classe operária na luta por mudanças sociais.

No mundo moderno, estes atributos se sobressaem e tornam a classe operária ainda mais importante, uma vez que possui melhor nível de formação, conhece a nova tecnologia e dela, está ciente –através da internacionalização– das noticias de todos os rincões do mundo. Esta internacionalização facilita o conhecimento dos trabalhadores, a expansão da experiência e a expressão da solidariedade e do internacionalismo. A internacionalização das lutas de classe fortalece ainda mais a classe trabalhadora e lhe possibilita a intervenção econômica, política e ideológica.

Por outro lado, os acontecimentos contrarrevolucionários ocorridos entre os anos de 1989 a 1991, na antiga União Soviética e outros países socialistas, permitem que o Movimento Sindical Internacional estude os erros, debilidades, omissões, que provocaram a queda do sistema socialista e aprenda com a experiência negativa.

A crise profunda e prolongada do sistema capitalista, os grandes e complexos problemas gerados por essa crise, obrigam os trabalhadores vanguardistas a estudarem todos estes avanços e, por conseguinte, obterem novos conhecimentos e habilidades.

Todos os pontos acima citados são as principais razoes pelas quais a classe operária está hoje no núcleo, no coração do processo produtivo e tem as chaves da produção. Mediante a compreensão de seu papel e sua missão histórica, a construção da sua unidade e a adesão de aliados naturais, em uma ampla aliança social, pode mudar o desenvolvimento das coisas, em todos os níveis.

Como disse Karl Marx: “A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias é a história das lutas de classes”. As lutas de classes provocaram a queda do regime escravagista, mais tarde, a do feudalismo e, no dia de amanhã, derrubarão o regime capitalista.

As três formas básicas da luta de classes

As formas básicas com que a luta de classes surge e se desenvolve são a luta econômica, ideológica e política.

A luta econômica é o primeiro passo para um trabalhador, para um sindicalista. É a escola fundamental, o ABC da luta de classes.

Trata-se da forma mais simples de ser compreendida pelo trabalhador, inclusive para aqueles com o menor nível de consciência. Este trabalhador também sentirá a necessidade de exigir um bom salário, boas condições de trabalho, o direito de reivindicar a seguridade social, uma jornada com menos horas de trabalho, melhores acordos coletivos, seguro para os períodos de desemprego e demissão.

Todas estas demandas econômicas impulsionam os trabalhadores a constituir sindicatos, participar dos esforços dos sindicatos que promovem este tipo reivindicações. Através da participação, aprendem acerca das greves, manifestações, sobre as diversas formas de protesto sindicalista. Colocam-se em contato com a rica experiência acumulada pelo Movimento Sindical mundial.

Através da luta econômica, a classe operária pode melhorar sua condição econômica, sob o capitalismo, ainda que se deva levar em conta que as margens para tal avanço estão cada vez mais estreitas, nas condições de uma profunda crise econômica e da deterioração crescente do sistema de exploração.

Ao mesmo tempo, a luta para alcançar uma melhor situação econômica, movimenta e ativa as amplas massas populares, as educa e prepara para as formas superiores da luta de classes.

É de grande importância ressaltar que a luta econômica sempre tem margens estreitas e que nem sempre alcança resultados permanentes e constantes, mesmo porque, os capitalistas têm, à sua disposição, muitos métodos para voltar a escamotear os benefícios econômicos que foram obrigados a proporcionar aos seus trabalhadores, como resultado da luta de classes. Tomam com uma mão, o que deram com a outra.

Devido ao fato de que a luta econômica não toca as causas profundas, que geram e reproduzem a exploração capitalista, ela não é capaz de libertar os trabalhadores da barbárie capitalista.

Todas estas dificuldades não devem levar ao abandono da luta econômica. A luta pelas demandas econômicas é necessária para as massas populares de todos os países do mundo e abre novos horizontes para os sindicatos e suas lideranças. Simultaneamente, todavia, é preciso enfatizar que, para que a luta, por melhores resultados e vitórias mais expressivas, seja útil para a classe operária, ela deve seguir para além do economicismo e superar suas limitações.

Um nível superior ao da luta econômica é o da luta ideológica

A luta de classes é realizada segundo os interesses de cada classe. A burguesia tenta manter e modernizar o sistema capitalista com a finalidade de gerar, para si, cada vez mais lucros, enquanto que o interesse a classe trabalhadora e seus aliados é dar-se conta de que o fim da exploração e a construção do socialismo serão sua única e verdadeira libertação.

Existem interesses de classe objetivos, ainda que nem todos os compreendam, o ponto crucial para o movimento sindical classista é que a classe operária deve ter consciência de seus interesses. O surgimento desta consciência não é automático, mas se dá através de um processo complexo, multifacetado e difícil. Por meio de um processo contínuo de evolução.

Em seus primeiros passos, os trabalhadores observam injustiças e desigualdades que os fazem sentir raiva, indignação e os impulsionam a ter arrebatamentos espontâneos. Um exemplo destas manifestações foi a destruição de máquinas no século XVIII, porque os trabalhadores constataram que o uso de máquinas piorara as suas vidas e perceberam, como seu inimigo, não os capitalistas, que eram os donos das máquinas, os proprietários dos meios de produção, mas as próprias máquinas.

Por outro lado, não é evidente por si mesmo que cada trabalhador possa perceber automaticamente que é uma parte integral de uma única e uniforme classe, onde todos os assalariados compartilham os mesmos interesses de classe. A fragmentação, a divisão, as táticas destrutivas da burguesia, o papel reacionário das religiões e os preconceitos bloqueiam a autoconsciência dos trabalhadores.

O estudo da história do movimento sindical, nos diferentes países, mostra-nos que durante as etapas de sua formação, foram criados sindicatos conjuntos, formados por trabalhadores e empregadores. Depois disso, tivemos associações comuns de assistência mútuas e, mais tarde, e até hoje, comumente, encontramos vários sindicatos no mesmo local de trabalho, por exemplo, em um hospital, há sindicatos diferentes para médicos, condutores, enfermeiros etc. Na mesma cidade, no setor da construção civil, por exemplo, pode haver diferentes sindicatos, para os pedreiros, os pintores, entre outras especialidades etc. Através desta fragmentação, cria-se uma falsa ilusão em alguns, de que eles próprios são capazes de alcançar melhores soluções que os outros e, inclusive –em alguns casos– às expensas dos demais.

Também há casos em que alguns trabalhadores autônomos acreditam que seus problemas ocorrem por falta de sorte ou porque passaram a ter um mau chefe ou por outros motivos totalmente pessoais.

Portanto, para que a classe trabalhadora seja capaz de interpretar corretamente os acontecimentos, é necessário que se consiga difundir e absorver amplamente a teoria científica que mostra o caminho para sua real libertação. Através da teoria científica, a classe operária pode se converter em uma “classe por si mesma” e compreender sua missão histórica.

A teoria científica criada por Marx e Engels não é um índice de soluções já prontas e adequadas para cada situação em particular. As normas e os princípios gerais, que têm aplicação universal, devem ser enriquecidos com as características de cada país e de cada movimento em suas circunstâncias específicas. Entretanto, se requer grande atenção e cuidado, porque a experiência histórica do movimento sindical mundial nos ensina que em nome das peculiaridades dessa ou daquela situação, de tal ou qual país, e através de sua ampliação, as leis universais foram descuidadas, deixando o caminho aberto a posições oportunistas e reformistas, que têm como finalidade tentar converter a teoria marxista de uma arma letal a um instrumento seguro para a burguesia.

Estes riscos obrigam o movimento sindical classista a, além da luta contínua para a obtenção do arsenal ideológico necessário para toda a classe, e em primeiro lugar, para a sua vanguarda, proteger sua retaguarda dos oportunistas e suas teorias, agentes e esforços subversivos.

A luta política é a forma mais elevada de luta

As lutas econômica e ideológica são importantes e seus papeis não devem ser subestimados. Contudo, as lutas econômica e ideológica não terminam em si mesmas, mas estão subordinadas a objetivos políticos maiores, a luta política da classe trabalhadora é aquela que pode libertar a classe operária da exploração e, desta maneira, resolver também, definitivamente, os problemas da economia. A luta política é a única que pode resolver a questão do poder político.

Para realizar a sua luta política, a classe trabalhadora utiliza, dependendo das necessidades e situações, diversas formas e métodos, como manifestações, greves políticas, ocupações, processos eleitorais, luta parlamentar e até rebelião armada.

Para realizar a luta política, a classe operária necessita formas superiores de organização e –obrigatoriamente– precisa ter um partido político.

O ápice da luta de classes é a revolução da classe operária e seus aliados para a formação do poder operário, que terminará com a exploração capitalista e conduzirá, através do Estado dos trabalhadores, à abolição das classes.

O movimento sindical internacional

Após a criação dos primeiros sindicatos em certas categorias, países ou regiões, teve lugar a internacionalização da ação, a coordenação e a solidariedade entre os trabalhadores de diferentes países.

O primeiro empenho deste tipo foi a criação da Associação Internacional de Trabalhadores de Marx e Engels. O segundo foi realizado em 1919, com a fundação da Federação Sindical Internacional, em Amsterdam, que ficou conhecida como Internacional de Amsterdam ou Internacional Amarela.

No ano seguinte, realizou-se em Moscou, o Primeiro Congresso Mundial dos Sindicatos Revolucionários, que decidiu pela criação da Internacional Sindical Vermelha, uma organização que desempenhou um papel importante no movimento anticolonial, e apoiou os movimentos de libertação nacional nos países do terceiro mundo.

A Internacional Sindical Vermelha foi dissolvida em 1943. Já havia sido iniciado o debate acerca do estabelecimento de uma nova organização sindical para os cinco continentes. A derrota do fascismo, o vento antifascista, o otimismo e a esperança surgidos com a derrota do nazismo, impulsionaram este processo. Em outubro de 1945, em Paris, França, realizou-se um grande Congresso Mundial, com a participação de 346 delegados sindicais, de 56 países, representando 67 milhões de trabalhadores organizados.

Em 3 de outubro, foi fundada a Federação Sindical Mundial, com a participação de todos os sindicatos existentes, de todos os países.

Até 1949, a FSM era a única Organização Sindical Internacional. Em 1949, os sindicatos de direita e reacionários, liderados pelos sindicatos dos EUA, Reino Unido, Países Baixos, entre outros, apartaram-se da FSM e, em dezembro de 1949, estabeleceram a Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (CIOSL). Ambas as organizações seguem existindo em nossos dias. Em 2006, a CIOSL mudou seu nome e passou a chamar-se Confederação Sindical Internacional (CSI).

Entre as duas organizações sindicais internacionais, existem grandes diferenças ideológicas, políticas e sindicais. A FSM tem como base os princípios da luta de classes, do internacionalismo proletário, do anti-imperialismo e da abolição da exploração capitalista. Ao contrário, a CSI adotou a posição de colaboração de classes, modernização e a longevidade do sistema capitalista, e de apoio às intervenções imperialistas.

Estas organizações internacionais sindicais representam duas linhas e percepções diferentes do papel da classe trabalhadora, da missão da classe operária e da perspectiva socialista da sociedade.

Internacionalismo: uma fonte de força

Nos tempos passados, o nível da produção social e as condiciones históricas gerais tornaram mais difícil o desenvolvimento do internacionalismo.

Com a formação gradual da Economia Mundial, quando as relações financeiras passaram a ter um caráter global, a classe operária converteu-se na primeira classe internacionalista consciente.

A classe operária é a autêntica classe internacionalista, uma vez que:

  1. Os trabalhadores não têm propriedade individual que divide as pessoas, nem interesses que geram competições e rivalidades com os trabalhadores e os povos de outros países.
  2. Os operários e o povo trabalhador em todos os países têm interesse comum pelo fim da exploração e barbárie capitalistas.

O internacionalismo surgiu dos esforços militantes dos trabalhadores em muitos países do mundo e é expresso de várias formas. Porém, o surgimento e a difusão da filosofia Marxista de Karl Marx e Friedrich Engels mudaram para sempre a consciência dos trabalhadores em todo o mundo e cristalizaram-se no lema imortal “Proletários de todo o mundo, uni-vos! ”.

Segue aqui uma lista dos elementos básicos do Internacionalismo Proletário, segundo os ensinamentos do Marxismo:

  1. É a ideologia que cientificamente demonstra os interesses COMUNS dos trabalhadores em todos os países. Não têm nada a perder, pelo contrário, há muitas coisas que os unem.
  2. Representa a SOLIDARIEDADE, o apoio mútuo, a cooperação fraterna com seus irmãos de classe.
  3. É a RECIPROCIDADE, a igualdade, o respeito mútuo.
  4. É a base voluntária do internacionalismo, que requer a compreensão de que o internacionalismo responde aos interesses básicos dos trabalhadores do mundo.

O internacionalismo do movimento sindical classista não nega as particularidades, a autonomia, o direito dos sindicatos nacionais de resolverem, à sua maneira, seus próprios assuntos, sem que isto debilite a unidade da classe operária mundial.

Desde o surgimento dos primeiros elementos internacionalistas até os tempos modernos, o internacionalismo vem trilhando grandes e importantes passos. Uma destas medidas foi a criação da Federação Sindical Mundial, em 1945, e que celebra este ano seus 70 anos de existência e ação. A fundação da Federação Sindical Mundial abriu novos caminhos para o internacionalismo e a solidariedade entre os trabalhadores de todos os países e abriu novas possibilidades para o intercâmbio de experiências entre os sindicatos nacionais.

Os 70 anos de Ação da FSM, com sua grande contribuição à luta anticolonial, anti-imperialista e à luta de classe orientada nos Estados capitalistas desenvolvidos, à defesa multiforme dos movimentos de libertação nacional em todos os rincões do planeta, à luta pelas liberdades democráticas e sindicais, à confrontação prática com os regimes ditatoriais, autoritários e antidemocráticos, ajudou grande parte dos trabalhadores de todos os países a concientizarem-se do valor do internacionalismo.

A própria vida ajudou a classe operária a entender que não pode ficar indiferente frente aos ataques capitalistas aos direitos dos trabalhadores, em qualquer país ou setor, que é preciso se preocupar quando os imperialistas lançam uma agressão, inclusive nos locais mais distantes do mundo. Em todas as ocasiões, a classe operária internacional tem de se solidarizar e entender que sua postura frente ao imperialismo deve ser unificada. A posição unificada é sua fortaleza, sua arma invencível.

Os inimigos da classe operária internacional, os teóricos do sistema de produção capitalista, e também alguns reformistas no movimento sindical, em seus esforços para atacar a unidade dos trabalhadores e, desta maneira, servir o capital mundial, ou justificar suas concessões e compromissos, desenvolvem teorias e alardeiam que o internacionalismo elimina a personalidade e as características nacionais de um movimento. Todos esses inimigos da classe operária dizem que há uma contradição para os povos, entre o interesse internacional e o interesse nacional e propõem, contra o nosso lema “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”, a frase de seu próprio lema: “Cada um por si e Deus por todos”.

Estas teorias não são apenas equivocadas, mas também perigosas e não-científicas. São perigosas porque dividem a unidade da classe trabalhadora, impõem barreiras na unidade do movimento sindical internacional e trabalham para prolongar a exploração capitalista. São pouco científicas porque fecham os olhos à realidade, pelo fato de que as leis do desenvolvimento de uma sociedade são LEIS GERAIS, vigentes em todos os continentes e países.

Nós, os marxistas, acreditamos que as leis gerais não necessariamente significam uniformidade, mas que a diversidade e as peculiaridades locais não podem interromper a unidade nas bases, a unidade no tema primordial. Não devem debilitar a frente principal, nem tampouco conduzir a uma batalha equivocada entre o nacional e o internacional.

O caráter internacional do movimento sindical

Cada sindicato deve lutar pelos direitos dos trabalhadores em seu país. Primeiramente e antes de tudo em seu próprio país. Enquanto apoia as lutas nacionais e impulsiona a perspectiva de classe em seu país, objetivamente estará favorecendo o fortalecimento do movimento sindical internacional.

Ao mesmo tempo, é necessário atenção e cuidado para que as massas não se enganem, ao pensarem que as condiciones em um determinado país sejam absolutamente únicas e que não existem condições similares em outro país. Isto limitaria sua ação e impediria o aproveitamento da experiência acumulada pelo movimento sindical internacional.

A utilização da experiência internacional coletiva, a assimilação criativa –e não mecânica– desta experiência é um elemento progressista.

A tática do Movimiento Sindical Internacional se define por muitos fatores, dos quais não se deve descuidar. Alguns destes são o lugar e a hora em que se produz a ação, outro a correlação de forças. Ao se perder de vista estas condições particulares relativas ao lugar e ao momento, e apenas transmitir mecanicamente a sua experiência, será muito mais provável que aquilo que teria um desenvolvimento positivo em um caso, possa ter uma evolução negativa em outro.

De qualquer forma, o intercâmbio de experiências, a utilização das conclusões positivas e negativas entre os movimentos militantes, são necessários e supõem-se que devam ser concretizados através das relações bilaterais, seja em fóruns sindicais e operários, ou através de conferências temáticas e Congressos internacionais, regionais ou setoriais.

O fortalecimento das relações entre as organizações e os movimentos sindicais deve apontar para a consolidação das relações e da amizade entre os trabalhadores e os povos, visando a enriquecer a consciência dos dirigentes sindicais e revigorá-los nos princípios do internacionalismo proletário.

A nova tecnologia, o uso da Internet, a distribuição rápida de noticias e informação podem ser aproveitadas pelo movimento sindical, para que sua ação seja mais imediata e ampla.

Iniciativas internacionalistas

No lema de 1847, “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”, Marx e Engels condensaram toda a essência e o conteúdo internacionalista da solidariedade operária. O internacionalismo proletário é uma necessidade urgente para a classe trabalhadora e contém a lógica revolucionária. Como irmãos, os trabalhadores do mundo, têm de ajudar uns aos outros, cooperar e coordenar entre si, para promover seu objetivo comum: a derrocada do sistema capitalista.

Independentemente de nacionalidade, raça, idioma, religião, a expressão citada, com todas as formas da solidariedade internacional, é a base do movimento sindical classista. Todavia, um elemento do internacionalismo, não é somente o apoio moral e prático, mas também os comentários, as propostas, a crítica construtiva aos movimentos e sindicatos, quando estes seguem táticas e opções equivocadas. Para que possa ajudar e não atrapalhar, a crítica deve ser expressa de tal maneira que não proporcione “armas” aos adversários, que não viole a autonomia de ninguém, levando sempre em conta o interesse geral do movimento popular.

Durante a sua trajetória, a FSM pôde demonstrar grandes elementos de internacionalismo e solidariedade. Desde as mais simples até as mais evoluídas formas de apoio à luta de classes. Esta solidariedade é amplamente conhecida nos países e movimentos que viveram ditaduras, em outros movimentos que organizaram lutas armadas, e entre os combatentes e militantes que foram encarcerados nas condições mais duras da luta de classes nos países capitalistas.

Hoje em dia, no período da globalização capitalista e de atividade impiedosa das transnacionais e dos grupos monopolistas, cuja principal característica é o ataque generalizado contra a classe operária internacional, a coordenação, a solidariedade internacional e as resoluções comuns são cada vez mais necessárias. Por outro lado, a agressividade imperialista que organiza guerras como na Iugoslávia, no Afeganistão, no Iraque, contra os povos da Síria, Líbia, Mali, Somália e demais nações, somente pode ser enfrentada com uma onda mundial generalizada do internacionalismo entre os povos. Simultaneamente, o avanço das características internacionalistas da Federação Sindical Mundial, foi uma resposta à tática da CSI, que preferiu apresentar um perfil independente e, ao mesmo tempo, apoiar a essência das políticas imperialistas.

Nessas condições, o papel da FSM é a cada dia mais importante. Têm razão os que dizem que a coordenação internacional, a unidade proletária e o apoio mútuo são, hoje, uma questão de vida ou morte para muitos movimentos. Por isso, a Federação Sindical Mundial, em seu novo rumo, após o 15º Congresso, de enriquecer seu papel internacionalista, o considera de grande importância e desenvolve ações específicas e multifacetadas. Com uma série de atos e comunicados encaminhados a organizações internacionais e a coordenação de conferências internacionais contra o ataque de Israel ao Líbano, a FSM realizou simpósios internacionais em solidariedade aos povos de Cuba, Síria, Irã, Bielorrússia, Palestina, Sudão, República Popular Democrática da Coreia; uma campanha mundial de solidariedade à grande luta dos trabalhadores da indústria do aço no Peru; uma grande greve mundial em todos os portos do mundo, contra a carga e descarga dos barcos comerciais de Israel, em solidariedade ao povo palestino; uma conferência mundial de solidariedade à luta palestina; uma Conferência Internacional em solidariedade a todos os imigrantes econômicos. A FSM apoia, de todas as formas possíveis, os sindicalistas na Colômbia, nas Filipinas, os operários no Cazaquistão, nos EUA, no Canadá, nas monarquias árabes do Golfo Pérsico e em cada parte do mundo. A FSM desenvolveu uma campanha internacional pela liberdade dos cinco heróis cubanos, encarcerados em Miami, nos Estados Unidos. Organizou protestos na frente da sede da ONU pelo perdão da divida externa dos países do Terceiro Mundo; encaminhou comunicados, resoluções e memorandos às embaixadas de muitos países, exigindo o atendimento às demandas trabalhistas. Estas e muitas outras são as ações concretas da FSM. Não se trata apenas de palavras, frases ou documentos sem conteúdo, como fazem os oportunistas, fingindo preocupação.

“O verdadeiro internacionalismo é trabalhar com abnegação em prol do desenvolvimento do movimento revolucionário e da luta revolucionária em nosso próprio país e apoiar esta luta, esta linha e somente esta, em todos os países, sem exceção”.