[Opinión] Do repúdio à aboliçom

A aprovaçom da ILP “Prou” representa um passo de gigante nom só no caminho de respeitar os direitos dos animais -a começar pelos milleiros de touros que se salvarám de umha morte cruel- senom na construçom de umha sociedade melhor, já que freia valores tam negativos como o uso injustificado da violência ou o desfrute com o maltrato animal e revitaliza o nosso sentimento de pertença à natureza. De facto, os convidados antitaurinos ao debate no Parlament exibiram contundência argumental suficiente para demonstrar que o rei está despido, sempre o estive: nada há de arte nem de cultura aqui.

Em efeito, vemos-nos obrigados a relatar o que deveriam ser obviedades. Umha tourada trata do martírio -convertido em negócio subsidiado com fundos públicos- de um inocente animal herbívoro dotado de sistema nervoso, que logicamente só quer escapar do acosso que padece, fugir e regressar ao campo do que tam violentamente foi arrancado. Durante os seguintes minutos trás a sua saída ao coso autênticas lanças destroçam os músculos nas costas, abrem buracos nos que a seguir penetram uns paos rematados em terríveis arpóns de aço. O calvário remata com umha espada de 80 centímetros de comprimento que nom sempre acerta no seu objectivo, o coraçom, senom que mui bem pode perforar o fígado, os pulmons ou mesmo a aorta, o que provoca umha lenta agonia entre vómitos de sangue. Numha tentativa desesperada por sobreviver, resiste-se a cair, e adopta encaminhar para a porta pela que entrou. Se o pacífico animal ainda sobrevive, será rematado com um punhal (a “puntilla”). Os matarifes mais “estéticos” som premiados com partes do corpo do animal, umha ou duas orelhas e talvez o rabo, e se os espectadores ficam reconfortados pelo espectáculo tiraram ao verdugo aos ombreiros do coso. E isto repete-se com 60.000 animais cada ano em todo o Estado, enquanto os pró-touradas afirmam cinicamente que os touros nem sequer padecem.

Nom obstante, as evidências nom abondan. Um dos grandes leit-motivs dos partidários da tortura legalizada é que com a proibiçom das touradas estám-se a recurtar as liberdades, já que ninguém é obrigado a assistir à praça de touros. Trata-se de umha demagogia estarrecedora -o que arrepia é que poida convencer a alguém- que poderia muito bem aplicar-se a outras práticas como a fraude fiscal ou a queima de montes. Desde logo, se algo é condenável nom só é lícito proibí-lo, senom obrigatório, e a tortura de um ser vivo entra precisamente dentro das actividades intoleráveis.

Apelam também os taurinos -surpreendentemente preocupados- à extinçom dos touros de lidia, obviando que as dehesas poderiam converter-se nuns magníficos parques naturais só com desviar umha mínima parte das imensas subvençons que recebem cada ano para os seus negócios privados. Em ocasiom mesmo se atrevem a criticam que nom todos os opositores desta forma de tortura sejam vegetarianos. Sem entrar na abismal distância entre matar um animal por alimentaçom ou por “espectáculo” -ninguém paga a entrada num matadeiro para ver como executam a umha rês lenta e penosamente- toda pessoa sensível com os direitos dos animais deveria celebrar qualquer passo adiante.

Assim, os únicos argumentos que ficam som o da economia e o da tradiçom, por outra parte mais que cuestionável na Galiza. Muitos actos absolutamente execráveis, como os sacrifícios humhanos ou as execuçons públicas, foram no seu dia mais populares que as touradas hoje em decadência e foram eliminadas a base de cultura, leis e valores humanos, e certas actividades ilícitas e justamente repudiadas, como o narcotráfico ou o tráfico de armas, geram mais dinheiro que as corridas.

O certo é que de nom existir este espectáculo a ninguém se lhe ocurriría inventá-lo. Se neste presente alternativo alguém propuser organizar e legalizar o martírio de cans, gatos ou cavalos na praça do Obradoiro para celebrar o Xacobeo, a sua capacidade de razoamento seria seriamente questionada. Sem embargo, as touradas nom desaparecerám soas (ou ao menos tardarán muito mais): também nós temos de mobilizar-nos e agitar-nos contra o pesimismo, transitando do repúdio às touradas, já amplamente maioritário, até a aboliçom.

 

José Emílio Vicente
Membro da Coordenadora Antitouradas de Ponte Vedra

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