Como sempre no marxismo, a reflexom teórica avança acompanhando a realidade do movimento do que quer ser teorizador. É dizer, o marxismo, a “filosofia da praxe”, pola sua especificidade, nasceu e desenvolveu-se à calor das convergências e divergências históricas que se produziam no interior das forças sociais e políticas que o tinham como referente. Assim pois, deshistorizar os debates som a via certa para desfocarem-se as análises. Estas notas inscrevem-se pois num momento particular: o nacionalismo galego juvenil e de esquerdas tras o seu passo polo governo galego e a reconfiguraçom orgánica dentro do BNG. Querem ser ademais, nom um tudo fechado e circular, mas elementos dum debate desde a nossa óptica absolutamente necessário.
A intençom declarada é fazermos umha crítica das insuficiências dalgumhas das linhas teóricas e práticas presentes no nacionalismo galego, especificamente a nível juvenil.
Antes de centrar-se no assunto que nos quer ocupar, precisa-se fazer umhas consideraçons prévias. Como nacionalismo de esquerdas, este sofre tanto as suas condiçons internas e específicas entanto que nacionalismo da Galiza como as dinámicas sócio-económicas mundiais e europeias: basicamente, a própria história do nacionalismo galego derivada da sua inserçom forçada no quadro espanhol da Reforma e as derivadas da queda do “socialismo real” e a entrega absoluta das socialdemocracias ao capitalismo neoliberal.
Resulta-se imprescindível também para a análise a evoluçom do discurso no nacionalismo galego, em concreto de todo aquel reunido hoje baixo o BNG. Nom é nada novo afirmar que hoje no BNG confluem várias linhas históricas de pensamento e práticas.
Esquematicamente, por um lado, o nacionalismo “nacional-popular”, orbitante ao redor da UPG, que ergueu a maior parte das organizaçons sociais nacionalistas, ERGA, CC.LL., SOG, etc, antecedentes das actuais. A nível teórico a UPG seria o comunismo patriótico, com um descurso de Galiza como colónia e actuaçom etapista onde umha aliança de classes populares levaria desde a Revoluçom Nacional-Popular (cuja linha teórica pode-se achar muito bem expressa no IV Plenário Nacional da AN-PG, dezembro de 1979) a umha Revoluçom Socialista, o que coerentemente provoca um rejeitamento frontal da Reforma política.
Ademais, temos a linha representada no seu nacemento polo PSG, rompendo com a sua origem pinheirista e abandonado por aqueles que depois se integrariam no PSOE. Desde umha origem nom estritamente nacionalista; este partido político marxista, de escasa militáncia, conceitua a Galiza como colónia interna da Europa Ocidental, com umha praxe política que varia entre a aliança entre o sector nacional-popular (CFPG, MFPG, desde o 81 com o BN-PG e finalmente integrados simultaneamente no BNG no 82) e o sector mais possibilista (a coaligaçom UG, ano 79), mesmo rompendo no 83, ficando umha parte no BNG e outra fora aliada com o sector possibilista.
Por último, umha linha representada por esse nacionalismo possibilista. Este nacionalismo aceita a participaçom desde o começo no quadro constitucional e estatutário, baixo a premisa de permitirem condiçons para o avanço do nacionalismo: seriam o POG, EG ou a última UG, até rematar integrada no BNG a começos dos 90.
Se fazemos este repasso é também para constatarmos umha evidência contrastável nas análises, documentos, posicionamentos e prática política da Fronte: a praxe política e descursos actuais da Fronte pouco se separam hoje das posiçons políticas de Unidade Galega de finais dos anos 70. Para umha crítica demoledora desse programa por parte do nacionalismo nacional-popular, pode-se ler em Crítica do Programa de “Unidade Galega” em Do capitalismo colonial, Lôpez Suevos.
O BNG desde a aceitaçom formal da Constituiçom espanhola no 85, correlato na Fronte da mesma pola UPG com grandes resistências e umha escisom mui significativa (onde mesmo média um escuro episódio onde as posturas contrárias ganháram, cfr. A nación galega existe, Francisco Rodríguez Sánchez, pag. 118 (1) ), mantivo durante os anos 80 e mediados dos 90 um descurso e praxe claras e de oposiçom ao que em Galiza foi a continuaçom do franquismo baixo AP: o BNG era, pois, a única alternativa política frente a esta e um PSOE no governo central que mostrava a sua verdadeira face. A confirmaçom prática das suas análises: destruiçom do agro via integraçom na CEE, desmantelamento produtivo do sector pesqueiro, bloqueio institucional e político e conseguintemente o aborto dumha possível alternativa burguesa própria via CG e grupos industriais associados a esse sector social, etc; e a coerente e combativa praxe política levou-no a ser a refêrencia social da mocidade e dos sectores sociais que queriam um cámbio de modelo. Fruito dessa onda popular acedeu-se, no seu cúmio, ao maior poder institucional do nacionalismo: 2ª força política no Parlamento no 97, no 99 governo em várias cidades… Com a baixa eleitoral do 2001 e o estancamento do 2003 a UPG opta por desprazar a toda costa o Porta-Voz Nacional Xosé Manuel Beiras ao entender que se dera um cámbio de ciclo e situar Anxo Quintana. E assim, em baixada, chegamos ao governo galego em 2005.
E ai explodem as contradiçons entre a praxe do governo e um descurso que se mantivera “criogenizado”, por muito que as propostas que figuravam desde 1997 no programa eleitoral, concebido como programa de governo, fossem mais mornas.
Mas como afecta isso ao descurso do nacionalismo popular? À vista do acontecido no governo, podemos enunciar uns pontos separadamente, mas relacionados e com coerencia interna, especialmente no nacionalismo juvenil.
1) Desconexom absoluta do discurso e a prática: dada a prática desenvolvida e a sua distáncia sideral ao descurso histórico, podemos afirmar que a maior distáncia entre elas maior esclerotizaçom do descurso, ao se autonomizar a prática do necessário contraste teórico, o que leva à conversom dumha teoria apegada à realidade a un discurso metafísico, parado em tempos passados já que o seu contraste com a realidade seria problemático e sempre projectado no futuro ad calendas graecas para justificar a actuaçom presente, permanentemente obstaculizada por “condiçons objectivas” exculpadoras e paralisantes, e umha situaçom política mais favorável que porém só permite rebaixar o descurso.
As responsabilidades de governo encomendadas à UPG dam bom exemplo dumha praxe nem coerentemente social-democrata, ademais dum nesgo produtivista. Na indústria, a concessom eólica como paradigma: desde a falha de respeito ambiental denunciada polo ambientalismo nacionalista a umha conceiçom do país como solo a vender baixo um plano desenhado polo PP ao melhor postor do capital, galego ou espanhol, a cámbio dumha mínima participaçom pública (um 14%): nem ordenaçom racional (quase todos os montes eram objecto de concessom), nem propriedade pública, total ou maioritária, baixo a forma de empresa pública ou semelhante, como mesmo figérom CC.AA. como a basca baixo o EAJ-PNV. E tudo isso defendido como plano estrela baixo o argumento desculpador: o do PP era pior. Também podemos falar da minaria: legalizaçons de concessons a posteriori de exploraçons irregulares prévias de empresas privadas, enfrentamento com o ambientalismo nacionalista, declaraçons de “concelhos mineiros” baixo prisma produtivista.
Tudo bem longe do que proclamava nom já a UPG, mas os Estatutos Fundacionais da Fronte:
“Socialización dos recursos enerxéticos e nacionalización da sua extración, produción e distribución.
Control e nacionalización, no seu caso, dos recursos mineiros estratéxicos para a nosa economía e fundamentais para o desenrolo dos procesos de transformación adecuados en función das necesidades e o progreso material da sociedade galega (do povo galego).”
Algo mais aceitável, mas bem longe também da mitomania, o Meio Rural: um Banco de Terras, também como elemento estrela, que nom era mais que um mediador entre proprietários privados e onde cambiárom de maos a minúscula cifra de menos de mil ha, ou mesmo umha actuaçom leiteira onde se conseguiu brilhantemente várias cousas à vez: ser incapazes de melhorar o pagamento aos produtores, enfrentar-nos ao sindicalismo agrário nacionalista e fracturá-lo, e actuar de valedores de empresas leiteiras sem mudarem rem as condiçons de comercializaçom e distribuiçom dos produtos lácteos. Tudo um êxito baseado na premisa que o Estado e a UE nom nos deixa operar, nem implantar qualquer mecanismo para garantir um preço mínimo, algo que se reclama insistentemente poucos meses depois. Ilustra bem o caminho percorrido vermos os argumentos do nacionalismo popular que exibia também Suevos na altura criticando UG: “o importante problema da comercialización dos produtos agrarios é discutible que se poida resolver ca creación dun sistema de precios de garantia e outras medidas afins, si non vai acompañado dunha Empresa Nacional de Comercialización”
2) Rigideza nos dogmas e ocultamento ou falsificaçom do próprio descurso histórico: usaremos um par de exemplos significativos, tomados de afirmaçons das duas últimas Assembleias Nacionais de Galiza Nova por parte de destacados membros da UMG.
“Ou Stalin ou Renan e nom existe mais”, referido à questom nacional. Essas eram as opçons dadas: o desprezo a muitos marxistas e a ignoráncia respeito à recepçom da definiçom staliniana (via utilizaçom instrumental por Castelao) som pavorosas. Sem termos que concordar forçosamente com eles, resulta olímpico o desprezo a Rosa Luxemburgo, Otto Bauer ou mesmo Lenine, que ignorou, ele sim, as aportaçons de Staline de 1913, e um ano depois da obra estaliniana no seu “Sobre o direito das nações à autodeterminaçom” afirmava “por autodeterminaçom das nações entende-se a sua separaçom estatal das colectividades nacionais estrangeiras, entende-se a formaçom de um Estado nacional independente”
Ademais, todo a produçom do marxismo posterior a essas datas (quando nem nacera o nacionalismo galego!) desaparece: nem sequer as aportaçons da própria tradiçom do comunismo nacional, ou das luitas de liberaçom nacional, é considerado.
E é que o discurso hoje a nível juvenil é mesmo um discurso herderiano e pre-marxista enquanto à teorizaçom da naçom, onde há primazia absoluta das questons culturais e lingüísticas, o factor económico e a formaçom social galega desaparece, a naçom vira fossilizada, só existem elementos objectivos e nom a vontade. Com o relógio parado em Murguia, nom é de estranhar a particular insistência sempre nas mesmas figuras, como o marechal Pardo de Cela.
“A URSS foi um exemplo de convivência nacional num estado federal”. A necessidade de escapismo na argumentaçom quando é reclamado um Estado próprio e soberno como alternativa coerente no exercício autodeterminista da lugar a esta afirmaçom. Mas nem ai acertam: a valorizaçom das contradiçons nacionais na URSS por parte da UPG (também o BNG) fora bem outra (2). Logicamente um partido que escapava ao esquematismo da URSS de “um Estado, um partido”, afirmando “umha naçom, um partido” favoreciam essas apreciaçons e essa “heterodoxia”. Hoje, a nível juvenil, a consequencia dum discurso artificialmente acoplado à prática política é que permite travestir-se a nivel teórico como a (suposta) ortodoxia pura, bem alonjada das históricas valorizaçons próprias, for por desconhecimento ou absurdo afám de verdade revelada.
3) Incidência absoluta só na “contradiçom principal” nacionalismo-espanholismo, que vira quase em “contradiçom única”, e ocultamento dos antagonismos de classe internos, o que fossiliza ainda mais a conceiçom da naçom: se as classes som internamente quase irrelevantes e podemos representá-las a quase todas (3), a naçom permanece igual a si própria para sempre, o factor económico desaparece e volvemos ao pre-marxismo murguiano, ademais de esterilizar a possibilidade de analisar a acelerada urbanizaçom e proletarizaçom do nosso país e actualizar a nossa praxe. E vencelhado a isto a relaçom nacionalismo e/ou esquerda: a fidelidade ao descurso de “o nacionalismo per se é esquerda e polo tanto nom fai falha afirmá-lo”, por muito que existam nacionalismos noutros países com posturas de classe contrárias ao galego, é usado para tapar as actuaçons contraditórias e afirmar-se de esquerda quando as actuaçons nom o som. Como amostra, um repasso às recentes XII Teses do Congresso da UPG dá umha (1) ocorrência à palabra socialismo, e só para falar do fracasso das experiências do Leste europeu, mas páginas e páginas à situaçom internacional, para aquí rematar falando desproporcionadamente da RTVG. Resulta bem chamativo num momento de novo ascenso da esquerda, da apariçom do “socialismo do século XXI” por exemplo, onde na Galiza mesmo o sindicalismo nacionalista (a CIG é o 2º sindicato do país e com mais de 70.000 filiados hoje, e subindo) fala do socialismo como alternativa ao sistema capitalista, um partido chamado de comunista tenha omisons desses calado.
Mesmo parece ocorrer um desprazamento da contradiçom “nacionalismo-imperialismo” para fora das nossas fronteiras, a causa das contradiçons que nos causa a relaçom com o PSOE: usa-se a legitimade doutros nacionalismos e antiimperialismos para cobrer as carências próprias e permite-se entom a postura juvenil mais extrema a milheiros de quilómetros, luita armada incluída, mas conforme nos achegamos ao país a radicalidade vai-se diluindo como açúcar na água.
Assim nom estranha que perante a tensom entre o descurso e a(s) realidade(s) do(s) nacionalismo(s) se acabe por justificar a nível juvenil a renúncia a se definir de esquerdas porque este é um conceito “vácuo” ou “confuso” .
4)Praxe política baseada no controlo absoluto dos movimentos sociais afins: a suposta fidelidade ao leninismo basea-se só em conservar o esquema organizativo de partido vanguarda do Lenine de 1905, criado para umhas condiçons históricas concretas, o régime tzarista baixo a clandestinidade, e nom como modelo. Assim vem a desconexom do nacionalismo político, incluído o juvenil, de movimentos que vêem supeditada a sua autonomia a seguirem milimetricamente as indicaçons marcadas, so pena de ostracismo ou aberta hostilidade. Nom é estranho pois que fosse durante esta etapa governativa onde as tensons fôrom mais agudas, ao nom coincidirem o ritmo do BNG-governo com o dos movimentos sociais nacionalistas.
O outro sector hoje maioritário do BNG, +BNG e redondeças, criou-se à calor do acesso ao governo autonómico e à decadência de muitos dos colectivos historicamente integrados no BNG, que abraçárom este recurso salvador. Este sector que agrupa mui diversas tendências e origens, amolecidas as diferenças graças à difusa nebulosa ideológica em que navegam, tem-no, ao menos, mais fácil. Se os anteriores pretendem conservar a suposta coerência e salvar a distáncia entre a teoria congelada e a prática real por meio de cada vez mais complexas piruetas, este sector directamente guinda ao lixo o discurso do nacionalismo popular e unifica prática e teoria renunciando ao discurso anterior (aqueles que o sostivérom, a outros reconhece-se-lhe a sua coerência de décadas) e acomodando-o à praxe real(izada), praticamente indistinguível do anterior sector do Bloco: se o sector possibilista perdeu organicamente a batalha, acabou ganhando a guerra pola via dos factos, qual o Cid da historiografia espanholista.
Poderiamos analisar o descurso deste sector atravês de muitas das declaraçons do anterior Porta-Voz Nacional e Vicepresidente da Xunta de Galicia, mas preferiremos fazê-lo sobre os textos a debate na constituiçom desta corrente, especialmente no referido ao seu relatório político. Nele expreme-se a visom sobre Galiza, o nacionalismo e a questom social. Resumindo, podemos dizer que estamos perante umha proposta social-liberal e autonomista, envolvida numha linguagem cara à vaga posmoderna e mesmo com graves assunçons de linguagens alheias ao nacionalismo. Vejamo-lo com exemplos.
Na questom nacional, autonomismo: valoraçom positiva da autonomia e especial énfase nas suas potencialidades ocupam a maior parte do texto (“a autonomía supón un avance histórico transcendental e constitúe unha ferramenta importante no proceso de conquista do autogoberno efectivo e a soberanía política”), mas mais significativo ainda é falar em soberania… compartida!: “Apostamos por avanzar cara a un Estado plurinacional, no que se estableza un modelo aceptábel para todos os pobos que coexisten no Estado español de coparticipación política, baseado na premisa da soberanía compartida” .Sabemos que mesmo nas Bases Constitucionais podia haver cesom de soberania, mas depois dum processo constituínte, de acadar a soberania plena e tras umha negociaçom. Mas nom é disso do que se fala aqui: aqui pola via da minúscula reforma constitucional, do passo mínimo, chegariamos sem nos dar conta a um Estado plurinacional onde este supostamente nos cederia graciosamente umha parte da sua soberania (para poder retirá-la em qualquer momento, como mesmo afirmava Castelao num treito do Sempre em Galiza referido a Catalunya). Como no paradoxo de Aquiles e a tartaruga, sempre correndo detrás do Estado Plurinacional sem poder alcançá-lo, nom sabemos como milagrosamente poremos de acordo o PP e o PSOE em reconhecer a pseudo-soberania, ao precisar dous terços do Parlamento espanhol, mas essa parece ser a táctica, empregada também por exemplo por Imaz no PNV: apostar em algo que nunca vai ocorrer, visto os precedentes centenários e recentes, antes que afrontar a realidade, esta vez sim, com realismo.
Na esquerda, a combinaçom resultante do melting pot vem ser o social-liberalismo:
1) Louvança à “igualdade de oportunidades”, fazendo abstracçom de origens e classes sociais, que nom aparecem nos textos, em linha com a fracassada e antipopular terceira via de Tony Blair e o seu ideólogo Giddens: “unha sociedade onde a impere a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre persoas e pobos. As persoas non poden desenvolverse en liberdade se non existen os mecanismos que garantan a igualdade plena de oportunidades (…)Os poderes públicos deben garantir polo tanto a igualdade real de oportunidades, así como a necesaria regulación dos mercados, para impedir a concentración de poder económico”
2) A defesa Estado de Benestar socialdemocrata da era neoliberal, longe da socialdemocracia pré-Grande Guerra (chegar ao socialismo atravês de reformas) ou mesmo da posterior à 2ª Guerra Mundial, que renunciando ao socialismo e mesmo o marxismo sim cria no Estado como proprietário de meios de produçom em sectores estratégicos, como o energético, do transporte (caminhos de ferro ou aeronáutico), o das telecomunicaçons, etc. O Estado é reduzido só à assistência básica: sanidade, educaçom, serviços sociais, e como regulador mas nunca como actor, espectador que nom joga:
“A consolidación e mellora do Estado do Benestar xurdido na segunda metade do século XX é un eixo de acción fundamental. Educación, saúde, servizos sociais, a defensa dos traballadores e traballadoras, as políticas de igualdade de xénero e a xestión sustentábel dos recursos naturais constitúen os piares básicos (…). Apoiamos a existencia de mecanismos públicos de regulación dos mercados en función dos intereses e necesidades das maiorías sociais, especialmente nos sectores estratéxicos e/ou que producen bens de primeira necesidade”
3) A louvança liberal ao empresariado como gerador de riqueza e emprego, e nom como fonte de exploraçom e expropriador de mais-valia, baixo o eufemismo dos “emprendedores”:
“Apostamos por unha sociedade civil dinámica, que acolla, potencie e valore os/as emprendedores/as capaces de desenvolveren proxectos innovadores orientados á creación de emprego digno e de calidade”
Em resumo, para avaliar quan esquerda transformadora e soberanismo achamos nesta corrente, nom parece arriscado compará-la com outros programas existentes no Estado espanhol, resultando do mais semelhante a Convergència Democrática de Catalunya, membro do Partido Liberal europeu, mesmo com alguns pontos menos de nacionalismo incluídos (4).
Resultam também significativas as ausências, mais para umha corrente recem constituida: Galiza só existe na UE, nom está no mundo, nom existe o imperialismo nem o internacionalismo (mas sim muito eurocentrismo). A única mençom é umha idealista (entendido como oposto a materialista) pretensom de “reformar” o BM ou o FMI. Nom sabemos como chegará essa reforma, nem para que, mas é que tentar explicitá-la levaria directamente à conclussom de que som órgaos irreformáveis, tal qual o Estado espanhol ou a UE. Mas é bem coerente com um texto onde se intui a resposta à pergunta: competir no capitalismo mundial por esquilmar mercados e recursos fora da borbulha europeia ou construir um mundo habitável para todos?
Finalmente, quanto à linguagem usada: seguimos na terceira via, no fascínio pola “sociedade do conhecimento”, a “sociedade civil dinámica”, etc. Mesmo usa-se linguagem perigosa ou contraditória com o próprio nacionalismo: um exemplo, fala-se de “ser nación no plano político”, como se só se fosse naçom se tivessemos soberania política, é dizer, recordando os espanholistas conceitos orteguianos, usados depois por muitos dirigentes do PSOE (Gregorio Peces Barba, paradigmaticamente, “pai” da Constituiçom espanhola), falando de “naçons políticas”, respeitadoras de direitos individuais, de modelo francês e com direito à soberania, e “naçons culturais”, naçons de segunda, sem direito à soberania, formadas sobre o modelo alemao do volkgeist. Nom ignorando a capacidade nacionalizadora dos Estados, e sabendo que a combinaçom de factores objectivos e subjectivos caracterizam qualquer movimento nacionalizador na conceiçom contemporánea de naçom, nom deveriamos esvarar cara a umha dicotomia que é exclusivamente usada para negar o direito de autodeterminaçom em base a supostas diferenças ontológicas nas naçons que encubrem o supremacismo e o imperialismo, diferenças unicamente sancionadas polo poder coercitivo estatal e nom pola vontade soberana dos povos. Fala-se também em “nacionalistas e galeguistas”, como se fossem conjuntos distintos, caracterizaçom bem cara do pinheirismo, que teorizou a existência desses dous planos desde os anos 50: galeguismo como superador e abrangente do nacionalismo, algo caduco e desnecessário que há que substituir polo federalismo europeu, galeguismo como algo difuso que também englobaria todas as forças políticas (5). Desde o nosso ponto de vista, o nacionalismo é o galeguismo político de hoje, tal como o foi no seu momento o provincialismo ou o regionalismo, e fora do nacionalismo nom existe galeguismo político: existem, no PP e PSOE, distintos projectos de assimilaçom nacional irreconciliáveis com o nosso. A nom ser, claro, que galeguismo seja folclorismo, polbo à feira e bailes com os velhos nas festas.
Bem sabemos que a crítica, mesmo feita com afám de debater, achar pontos de encontro e ajustar o nosso descurso, é bem mais fácil que dar alternativas, e mais acertar nelas. Nom seria justo pois, rematar sem dar ao menos umhas ideias sobre por onde achamos devem ir os descursos e práticas do nacionalismo galego. Ademais, fazemo-lo desde a nossa postura declarada, devedora da linha histórica do nacionalismo popular, solidária com os movimentos de liberaçom nacional e social no mundo: queremos construir “a via galega ao socialismo”, o socialismo do século XXI para umha naçom com um Estado independente e soberano. Essa é a nossa aposta, onde poderiamos enunciar as ideas de que falavamos por paralelismo opositor com os pontos que usaramos para analisar previamente:
1) Um bem preçadíssimo da esquerda é a coerência. A hipocrisia, o dizer sem o fazer, causam muito mais dano nos movimentos liberadores. O dirigismo falando em horizontalidade, a desqualificaçom pessoal falando em companheirismo, o privatizar serviços falando em socialismo… som elementos a desterrar do nacionalismo galego. A confiança que nos deu o povo galego, laboriosamente construida, pode-se perder em poucos anos: na consciência popular, Reganosa apaga às Encrobas, o Plano Acuícola apaga Baldaio… e mais numha sociedade individualista e com pouca memória. Assim pois, devemos fazer um esforço máximo em conservá-la, sem a qual qualquer passo polo governo só pode ser entendido como desgaste, natural e determinado pola acçom política própria.
2)Precisamos umha urgente actualizaçom do marxismo e soberanismo galego, nom para vender-nos, mas para poder actuar e transformar na direcçom querida: a nível da questom nacional, devemos recuperar o papel da economia na definiçom da nossa naçom como ente social e nom monólito ahistórico, a relaçom entre elementos objectivos e subjectivos, entre naçom e Estado. Assim mesmo, formar-nos, conhecer as valorizaçons históricas, as actuaçons e os descursos do movimento nacional-popular.
3)Na esquerda, é imprescindível retomar a nível discursivo a existência da luita de classes na nossa naçom e o carácter de esquerdas e popular do nosso movimento emancipador. Nom é labor destas linhas e excede as capacidades do autor, mas é imprescindível analisar o capitalismo na Galiza e a sua relaçom com a opressom nacional e o colonialismo hoje, os mecanismos usados para a apropriaçom da mais-valia e a sua relaçom com a dependência económica colonial, o carácter da super-exploraçom quando a cada vez mais a estrutura de classes parece-se às do capitalismo central, com um sector agrário muito reduzido e um nível de assalarizaçom do 70%, etc.
Precisamos, em relaçom a isso, analisar quais sectores sociais queremos representar e a forma de organizaçom política subseguinte. Ao nosso ver, segue sendo válida a fórmula da Fronte e a aliança de classes para a liberaçom nacional. Achamos ademais, que a fronte pode repressentar mui maioritariamente a nossa naçom orbitando sobre a classe trabalhadora e as classes populares, mesmo mais agora que quando se fundou, por causa da assalarizaçom e terciarizaçom social. Achamos imprescindível ademais fixar dentro do nacionalismo popular sectores flutuantes das classes meias, especialmente urbanas: profissionais liberais, autónomos, assalariados das administraçons públicas, técnicos… E seguimos pensando que os interesses objectivos dos pequenos burgueses galegos (na sua estrita condiçom de pequenos empresários) estám ao lado do campo popular. A linha de demarcaçom hoje move-se cara medianos e grandes burgueses: achamos bem diferente um padeiro, umha sapateira, um peixeiro, o dono do quiosque com um empregado, o autónomo com dous camions, umha tenda de roupa, um estudo de delineaçom… que a propriedade dum estaleiro, dumha cadeia de hipermercados, dumha construtora ou dum meio de comunicaçom.
O importante é aplicar o que dizemos: se nos cremos essa diferença, nom caeremos em erros que a nossa base social nos fará pagar. O labor da Fronte, do BNG, nom pode ser pois a criaçom dumha inexistente burguesia galega, defendendo os seus interesses frente aos foráneos. Esses burgueses fam parte, como sempre figérom, da oligarquia espanholista e espanholizante; e nunca vam poder ser representados polo BNG sem este sofrer umha mutaçom que o desnaturalizaria. Chegado o suposto caso, o BNG deveria ver nacer sem interferir, ou mesmo apoiar se assim o estimasse, o nacemento dumha força de obediência galega de centro-direita, mas nunca pretender transformar-se nela: o BNG foi, é e deve seguir sendo a ferramenta das classes populares do país.
Precisamos também pensar de novo o vencelho das luitas nacional e social, a sua interrelaçom e como dar os passos cara umha transformaçom radical da sociedade. Ai declaramo-nos seguidores dumha linha que iria desde o Lenine de 1917, passando por Gramsci, o primeiro Lukács e aqules marxistas que complexizárom a questom da “inevitabilidade das leis históricas” e as formas da questom central da tomada do poder. Achamos que a ruptura tem que vir dumha acumulaçom de forças populares para a que será imprescindível a clarificaçom do discurso e a prática coerente, explorando as contradiçons do Estado, e fazendo que cada avanço e cada reforma seja um passo positivo para a ruptura e nom umha forma de narcotizar o povo, amortiguar as contradiçons ou entregar a nossa legitimidade, fechando os debates para outra geraçom.
Apostamos também polo historicismo e a criaçom do homem novo do que falava o Che Guevara frente ao determinismo e o economicismo, e pensamos que a revoluçom nacional-popular e a socialista correrám cada dia mais juntas e simultáneas: nas dinámicas políticas galega e do Estado espanhol parece impossível que ocorra umha ruptura radical no plano nacional sem que seja abalado também cara a esquerda o quadro político.
4) Por último, temos que apostar na autonomia dentro do movimento nacionalista. Temos que saber que os ritmos e necessidades dos movimentos sociais nom tenhem porque, e provavelmente nom o fagam, coincidir com os da Frente Política, polo que temos que saber que nom sempre coincidirám exactamente com nós. Temos que fortalecê-los e coidá-los, porque deles se nutrirá a militáncia política e neles pode nascer, porque deles sairám propostas que serám sempre interessantes e muitas vezes correctas, já que o seu trabalho centra-se nelas: a Fronte Política tem que saber ter a visom de conjunto, mas se existem diferenças com os movimentos nom podemos tentar controlá-los porque isso pode levar à sua fractura ou destruiçom.
Todas estas reflexons sabemos que som pequenos apontamentos, e que é imprescindível que aqueles que apostamos nas classes populares, na esquerda e no nacionalismo reflexionemos conjuntamente para actuar certos. Como dizia Lenine: estudar, estudar, estudar!
Diego Santório
militante de Isca!
Anexo: Crítica do programa de “Unidade Galega”, Ramón Lôpez Suevos
NOTAS:
(1) “Gañaron por un voto os partidarios de non asumiren o requisito. Aconteceu sinxelamente que os encarregados de contar os votos se trabucaron e deron as cifras invertidas (…) Unha vez que se fixo público o reconto dos votos, a persoa responsábel decatouse de que se producira um erro, mais o acto estaba xa consumado e a asemblea en proceso de disolución. As secuelas internas, de dar a coñecer esta equivocación, semelleránlle (sic) de tal envergadura que xa non se atreveu nen a falar”
(2) “A UPG criticou na teoria e desmentiu na prática o tratamento dado aos problemas nacionais polos partidos situados na órbita ideolóxica soviética. Sempre nos pareceu incorrecto que o direito de autodeterminación, formalmente recoñecido nas sucesivas Constituizóns da URSS, carecese de verificación, ao privar os destinatários deste direito dos instrumentos adecuados para pó-lo en prática ao negar-lles a capacidade de auto-organización política. O facto de que os comunistas galegos optásemos por organizacións partidárias de ámbito e carácter nacional contradicia na prática o esquema defendido pola doutrina de Moscovo, defensora do marco estatal como base organizativa do proletariado.”
Consultável em: http://www.uniondopovogalego.org/terraetempo/12-doc-3.htm
(3) Resulta altamente significativo o afirmado polo Secretário Geral da UPG, Francisco Rodríguez, ao Xornal de Galicia em 23/08/2009, dos sectores que ao seu ver se dirixe o BNG: “clases populares que van dende os traballadores ata a mediada e pequena burguesía, (…) onde caben ata algúns grandes empresarios, pero como feito minoritario”
(4) Cfr. com o seguinte, disponível em http://www.convergencia.org/descripcioPlana.php?id=67
Els principis generals i objectius de Convergència són:
a) Potenciar la identitat de Catalunya per assolir i desenvolupar la plena sobirania nacional.
(…)
d) La defensa dels drets humans i les llibertats individuals i col•lectives i dels pobles, així com el dret a la seva autodeterminació, la convivència, la solidaritat, la igualtat, l’aprofundiment de la democràcia i el dret i el respecte a la diferència.
e) La justícia social i la solidaritat entre les persones i els pobles, que han d’assegurar a tots els ciutadans i ciutadanes unes condicions de vida dignes i un repartiment equitatiu de la riquesa i que garanteixin un mínim de benestar econòmic
f) Vertebrar una societat amb una economia de lliure mercat productiva i competitiva, sostenible i respectuosa amb el medi ambient que incentivi l’esforç i la creativitat per a generar riquesa i treball i que permeti la consolidació i el creixement de l’estat del benestar
Ou mesmo também as suas juventudes, a independentista JNC:
La JNC té com a principi rector la democràcia, i configurem la nostra proposta ideològica al voltant del sobiranisme social-liberal. (…) Per tant, la JNC vetlla pel progrés social de Catalunya, i ho fa a través dels eixos que defineix el social-liberalisme. Un paradigma (…)que es basa principalment en la defensa de l’individu i la seva llibertat per a tirar endavant els seus projectes conjuntament amb un estat del Benestar modern que vetlli per la igualtat d’oportunitats de tots els ciutadans i per la justícia social basada en la meritocràcia.
(5) Concordamos fortemente com a análise realizada em “Piñeiro e o Piñeirismo em perspectiva histórica” Velasco Souto, Carlos F., Ed. Laiovento