[Opinión] Socialismo: imaginar a alternativa

Nos começos da atual crise, quiçá temendo umha resposta social que pugesse em perigo os seus privilégios, os dirigentes mundiais começárom a falar durante um tempo dumha “refundaçom do capitalismo”. Falavam daquela da necessidade de umha maior regulaçom do mercado, do controlo dos excessos especulativos e medidas similares que como bem pudemos comprovar finalmente nom só nom se concretárom, senom que som hoje condenadas como inviáveis pola maioria dos governos.

Todas essas promessas acabárom pois esvaecendo-se e a as elites políticas e económicas do centro do sistema decidírom afondar ainda mais na mesma lógica do capitalismo, levando até o extremo o modelo neoliberal que décadas atrás começaram a impor. Assim, em sociedades como a nossa pretende-se acelerar agora a transferência das rendas do trabalho para o capital, provocando em geral um maior empobrecimento da maioria social que vem acompanhado dumha degradaçom ou desmantelamento dos serviços públicos. Todo com a ajuda dum aumento da repressom e dum esvaziamento cada vez maior da democracia formal teoricamente vigente.

Todo isto, ao tempo que piora as nossas condiçons de vida, cria condiçons objectivas para organizar a resistência à dominaçom e começar a formular e construir alternativas. Pois, se bem nom é algo que tenha ainda traduçom política visível a muitos níveis, é evidente que medra o questionamento nom só das medidas impostas polo grande capital aos governos ao seu serviço, mas também cada vez mais ao próprio sistema e à sua lógica depredadora que fai possível que todo isto esteja a passar. E é neste ponto onde devemos pôr sobre a mesa o debate sobre a necessidade de pensar, defender e começar a articular um novo sistema, o socialismo.

Nesta cojuntura, pois, o papel das organizaçons revolucionárias é o de evidenciar nom só a nefasta gestom dos governos de direita (em qualquer das suas versons), mas também o cerne do problema, a estrutura social e económica que permite e promove com a sua lógica criminal que as desigualdades sejam cada vez maiores.

A mensagem anti-capitalista, o debate sobre a nova sociedade que devemos construir, nom é para nós algo que poda postergar-se para tempos melhores. É certo que agora mesmo, com umha esquerda em boa parte derrotada ou domesticada por incapacidades e renuncias -e que está ainda a recuperar-se, formular um horizonte socialista pode resultar para alguns pouco realista ou mesmo utópico. Porém, nom há maior utopia que a de pretender que as aspiraçons da maioria social podem ter saída num sistema unicamente dominado pola lógica do lucro e da acumulaçom infinita.

Sobre isto, há umha argumentaçom circular da esquerda reformista que conclui que nom há que dar determinados debates nem usar certos conceitos (como o de “revoluçom”, ou o de “socialismo”) porque a sociedade, supostamente, “nom está preparada”. Porém, é essa própria esquerda quem renuncia a “prepará-la” ao abster-se voluntariamente de abordar assuntos que julga pouco assumíveis por umha sociedade que freqüentemente subestimam.

Precisamente, poucos momentos haverá melhores que este para falar de socialismo, e nunca foi tam urgente socializar desde já a alternativa, estender entre o povo a necessidade objetiva dum novo tipo de sociedade em que os direitos nom se confundam com as mercadorias.

Tendo claro este horizonte, cumpre também entender a relaçom entre objectivos tácticos e estratégicos. É evidente que também dentro deste sistema podem conseguir-se vitórias parciais, reconhecimento de direitos, ainda que certamente o capitalismo tenha cada vez mais dificuldades para reproduzir-se e ao tempo ceder terreno na luita de classes. Porém, a evidência de que aqui e agora, ainda baixo o capitalismo, as nossas condiçons de vida poderiam melhorar substancialmente com medidas políticas facilmente aplicáveis só com existir vontade política real nom deve fazer-nos perder a perspetiva. Porque neste sistema poderemos conseguir certas conquistas, mas só estarám realmente garantidas se conseguimos tombá-lo. Tombá-lo para construír sobre as suas cinzas umha sociedade sem dominaçom de classe, sem opressom de nengum tipo, o que nós chamamos socialismo e entendemos como um processo de construçom sobre novos alicerces.

À hora de sacar à luz este debate, é útil expor de que estamos a falar no terreno do concreto. Falarmos de socialismo significa defendermos a propriedade coletiva dos meios de produçom, numha economia planificada em favor dos interesses do povo e nom das empresas, onde se garanta o reparto do trabalho e da riqueza. Implica umha sanidade e um ensino integralmente públicos e gratuitos, ou tirar a vivenda do mercado para convertê-la num direito real. Supom entender que só em base a umha planificaçom racional da atividade económica pode garantir-se a conservaçom do ambiente. É articular umha democracia participativa em que a comunidade esteja realmente implicada na tomada de decisons. Significa também que, entendendo que todas as formas de opressom (particularmente a de género) que vivemos hoje em dia som funcionais à reproduçom do sistema capitalista, estas também deverám desaparecer no novo socialismo que vamos construir.

À pedagogia socialista convêm-lhe também lembrar que hoje os governos que estám a acadar melhoras substanciais na qualidade de vida das classes populares som aqueles que estám imersos em processos revolucionários cara à superaçom do capitalismo, particularmente em América Latina, com todos os seus diferentes ritmos e contradiçons. Por suposto, Cuba é um exemplo que ilumina a humanidade e que garante que, a pesar de todas as dificuldades impostas, é possível avançar na construçom dum sistema social diferente e garantir umha vida digna à maioria.

Falar de socialismo, defendê-lo como única alternativa real e viável e formular desde já umha emenda à totalidade do capitalismo é nom só umha necessidade, mas umha urgência. Porque imaginarmos a nova sociedade é começarmos a fazê-la possível.

 Breixo Lousada

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