Com todas as atualizaçons necessárias que podam precisar umha análise e um modelo que já tenhem certo percurso na nossa naçom, seguimos a defender a plena vigência desta ideia: numha naçom sem soberania como a nossa, o caminho da transformaçom radical do sistema passa pola aliança de quem, desde a esquerda transformadora, defendemos um projecto de ruptura democrática com o Reino de Espanha e um processo constituínte em chave nacional. Se a de “ruptura frente a reforma” era a questom chave durante a transiçom, com tanta ou mais razom há sê-lo agora em que as estruturas de estado e de governo estám mais questionadas que nunca.
Quando até as forças da esquerda conseqüente dos povos com estado fam bandeira da reivindicaçom da soberania e a independência, com mais argumentos ainda devemos agitá-la na Galiza, onde dispomos ainda de menos ferramentas e capacidade de decissom. Recuperar a soberania plena, algo só possível com um estado de nosso (condiçom necessária mas nom suficiente), é a única maneira realista de começarmos a romper com as imposiçons da troika, as receitas do capitalismo na sua fasse neoliberal e as suas estruturas de dominaçom, sejam a UE ou a OTAN.
Também a maioria de quem neste país nos chamamos comunistas entendemos Galiza como um marco autónomo de luita de classes, e a luita de libertaçom nacional como a via mais útil para rachar as cadeias dum sistema que fai da opressom dos povos umha das suas pancas fundamentais. Nom se trata de etapismos mecanicistas, mas de entender que umha transformaçom social digna de tal nome só é viável rachando as cadeias da dependência. Nom se trata de sacrificar a questom social pola nacional, mas ao contrário, de analisá-la no seu contexto concreto e entendê-la em toda a sua dimensom material. Por dizê-lo de jeito simples: aqui e agora, a independência é a nossa vía de saída do capitalismo.
Com estas premissas desenvolveu-se o movimento de libertaçom nacional galego, e é desde estas formulaçons que seguimos apostando por alianças amplas e plurais com base nesses objectivos de soberania e mudança social.
Por isso é que cumpre pôr em valor certos passos que se estám a dar nas últimas datas, em que estamos a ver imagens que até hai pouco faziam-se impensáveis. Acordos e alianças amplas entre militantes (organizadas partidariamente ou nom) que até hai bem pouco tempo ignoravam-se, quando nom se atacavam diretamente situando-se mutuamente como inimigos políticos mais que como potenciais aliados.
De feito, quem formulávamos a necessidade de criar e partilhar espaços comuns, participar de certas iniciativas plurais e romper alguns tics sectários que lastravam dinámicas unitárias achávamos bastantes dificuldades, desconfianças e mesmo ataques por parte de quem nom entendia o nacionalismo mais alá da sua própria e bem demarcada leira.
No mês de julho vimos apresentar-se duas iniciativas em planos distintos mas com um objetivo comum: tecer alianças nacionais e dinámicas plurais em base aos objectivos de ruptura dos que falávamos. A convocatória dumha mobilizaçom unítaria pola independência por parte da mocidade soberanista é um destes pontos de inflexom, rompendo tabus atávicos e demonstrando a vontade de estar à altura das circunstáncias por parte de quase toda a mocidade organizada nessas coordenadas. Na convocatória para o 24 de julho estará quem quijo estar, sem mais límite que essa vontade e o de assumir uns acordos mínimos que decerto abirám a porta para seguir a afortalar este tipo de dinámicas no futuro, nom só no plano juvenil.
No mesmo mês lança-se formalmente Galiza pola Soberania, umha iniciativa popular, plural e supra-partidária que reune inicialmente a 200 pessoas de diferentes ámbitos sociais, culturais e políticos, com o fim de situar o debate soberanista na agenda política da nossa naçom e com o horizonte estratégico dumha República Galega socialmente justa, plenamente democrática e nom patriarcal. O objectivo é criar um movimento de massas para que Galiza tenha voz própria num debate que está a sacudir a Europa e no que a esquerda tem todo por ganhar.
A chave do sucesso será combinar ajeitadamente generosidade nas formulaçons concretas com firmeza nos princípios e objectivos. Umha generosidade que deve começar polas organizaçons políticas, pois se bem é obvio que somos miles as patriotas que militamos nelas, nom é menos certo que som muitas mais as que hoje se movem foram das suas filas, particularmente as que nom tenhem militáncia formal mais que a que desenvolvem no plano social, cultural ou desportivo e que querem sentir-se também co-protagonistas das novas dinámicas que se estám a criar.
Bem-vindo seja pois este novo cenário, que é responsabilidade de todas contribuirmos a cuidar para abrirmos umha nova etapa para as classes trabalhadoras do nosso povo. Trata-se de atuar com lealdade, com respeito e confiança mútua e sem oportunismos. Afortalar o projeto próprio de quem temos militáncia partidária e frentista é perfeitamente legítimo e por suposto a ninguém se lhe pode exigir o abandono das suas posiçons políticas. Mas nada disso é incompatível com ir criando amplos espaços comuns que mesmo podam facilitar recomposiçons de siglas, das que ninguém deve querer fazer um fetiche.
Sabemos que o potencial de ruptura da aposta soberanista e independentista é enorme, e assim o sabem também os nossos inimigos de classe. Aquel “Antes roja que rota” pronunciado por Calvo Sotelo ilustra ben às claras que os nossos inimigos entendem às vezes melhor que nós próprios como se entrelaçam as diferentes opressons. Romper com Espanha, con este regime decadente e corrupto será a nossa melhor contribuiçom para acabar com o projecto da oligarquia centralista e das suas elites intermediárias.
O debate soberanista nom é pois umha deriva oportunista, nem muito menos um malabarismo eleitoralista. Dificilmente se poderá argumentar que precisamente essa seja umha questom que poda concitar massivos apoios eleitorais, polo menos a curto prazo. Mas é umha aposta estratégica imprescindível se queremos ter futuro como povo e começar a viabilizar um verdadeiro projeto de libertaçom nacional e social que nom admite mais demoras. Se nom é agora, quando? Se nom fazemos quanto antes pedagogia política arredor da questom nacional, cada vez será máis difícil ainda o labor que nos encomendamos.
É bem certo que a maioria da direçom do nacionalismo galego foi caindo durante bastantes anos nesse erro, marginando esse debate e colaborando com que pouco a pouco desaparecesse da agenda política. Nom fomos poucas as que criticamos constantemente esta estratégia suicida da moderaçom e a renuncia, hoje felizmente deitada no lixo. A realidade é que com o famoso argumento circular de que a sociedade nom está preparada para certas formulaçons, renunciamos a situá-las no debate político e social, sendo assim nós mesmas responsáveis de que diminua o nível de consciência nacional dificultando ainda mais ainda esse labor no futuro. Mas, se nom o fazemos quem nos reclamamos nacionalistas e independentistas, quem o vai fazer?
Som esses erros, por sorte já maiormente emendados, os que explicam em parte a situaçom na que estamos hoje. Porém, curiosamente hai quem hoje segue a soster esses argumentos que falam da inoportunidade de agitar a questom soberanista. Seria até legítimo se isso se figer puramente por evoluçom/degeneraçom ideológica, abandonando na prática um nacionalismo para substituí-lo por um morno e inócuo neo-pinheirismo, que também hai casos. Mas já nom o é tanto se isso se fai só por mesquinhos interesses eleitorais e por legitimar alianças que dificilmente podem compatibilizar-se com a defesa efectiva do que se assume só na teoria.
Estas alianças, as presenças e as ausências dos diferentes atores políticos em cada momento e lugar irám clarificando o panorama daqui em diante, situando às claras quem quer ser partícipe desta estratégia de ruptura e quem só está por legitimar na prática a atual configuraçom do Estado e portanto o seu opressivo sistema depredador.
Quem sempre defendemos a necessidade de que o debate se desse nestes termos de soberania e mudança social como caras dumha mesma moeda, sentimo-nos mui cómodas neste novo cenário (sem negar, por suposto, as muitas contradiçons que ainda persistem e persistirám até a sua consolidaçom) Por isso seguiremos a trabalhar por fortalecê-lo e porque, como di a CUP: queremos a independência para mudá-lo todo.
Breixo Lousada Valdés
Militante de Isca! e do Movimento Galego ao Socialismo
(publicado no jornal digital Sermos Galiza)